A uma semana das eleições presidenciais nos EUA, o assunto é a disputa acirrada entre a candidata democrata, a vice-presidente americana Kamala Harris, e o seu adversário republicano, o ex-presidente Donald Trump. A União Europeia (UE), de olho nas pesquisas eleitorais, se prepara para uma eventual vitória de Trump.
A chegada de Donald Trump à Casa Branca em 2017 representou uma linha de ruptura política na Europa. Na época, Trump apoiou o Brexit e se alinhou com os líderes populistas da Polônia e da Hungria. O ex-presidente americano redesenhou o mapa das alianças com a Europa, relançou o debate sobre a obsolescência da Otan e exigiu que os países europeus aumentassem as contribuições para a defesa.
Desta vez, sete anos depois, a possibilidade de uma volta de Donald Trump à presidência não agrada à maioria absoluta dos governos na Europa. Em fevereiro, vários dirigentes europeus criticaram os comentários de Trump de que os EUA não protegeriam os membros da Otan que não cumprissem a meta de gastos da aliança militar.
O chefe da diplomacia da UE, Josep Borrell, rebateu, afirmando “Vamos ser sérios. A Otan não pode ser uma aliança militar à la carte. Não pode ser uma aliança que funcione dependendo do humor do presidente dos EUA”. Em resumo, esta é uma reação que traduz a posição de Bruxelas sobre Donald Trump.
Medidas preventivas
Caso Trump seja reeleito, a União Europeia teme que o republicano interrompa a ajuda americana à Ucrânia e busque um acordo com a Rússia. Diante uma possível vitória do candidato, Bruxelas está buscando reforçar o seu apoio financeiro a Kiev, além de estar mantendo sanções robustas contra Moscou e fortalecendo a política comercial para mitigar os impactos de um eventual retorno de Donald Trump ao poder.
A União Europeia poderá adotar medidas comerciais de retaliação se confrontada com uma política econômica mais agressiva dos EUA. Recentemente, Trump ameaçou impor tarifas de 10% a 20% em todas as importações, com o objetivo de repatriar empregos industriais para os EUA, referindo-se à União Europeia como uma “mini China”.
Na semana passada, o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, disse que o futuro da União Europeia não deveria depender das eleições presidenciais americanas. Para Michel, tanto Kamala Harris quanto Donald Trump devem aplicar políticas protecionistas. “Com Harris ou Trump, vocês acreditam que os EUA deixarão de ser um país protecionista?”, questionou.
Parceria bilateral sólida
As relações estratégicas entre a União Europeia e os Estados Unidos existem há quase sete décadas e a cooperação transatlântica entre Bruxelas e Washington abrange áreas que vão da política externa à cooperação bilateral para impulsionar as indústrias de tecnologia limpa nas próximas décadas. Além disso, a parceria comercial entre a UE e os EUA é sólida. Em 2022, o comércio bilateral movimentou € 870 bilhões, e as importações e exportações mais do que duplicaram na última década.
De certa maneira, os EUA foram responsáveis, mesmo que indiretamente, pelo surgimento da União Europeia. Apesar de Bruxelas não gostar de admitir o fato, na verdade, o Plano Marshall - programa de ajuda econômica dos EUA para a reconstrução das principais potências da Europa pós-Segunda Guerra Mundial – foi a pedra angular para a criação do bloco.
Na época, os EUA disseram que só arcariam com o apoio financeiro se houvesse integração dos países europeus. Assim, em 1951, foi criada a Comunidade Europeia do Carvão e do Aço, reunindo França, Alemanha, Itália, Bélgica, Holanda e Luxemburgo, que anos mais tarde daria origem à União Europeia. A iniciativa americana serviria ainda para barrar qualquer ambição de expansão do líder soviético Josef Stalin.
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