Bornito de Sousa, chefe da Missão de Observação Eleitoral da União Africana, saudou “as primeiras eleições sem armas” em Moçambique, em referência ao pleito desta quarta-feira (9). Mas os 17 milhões de eleitores, que vão às urnas eleger presidente, o Parlamento e os governadores provinciais, votam sob um clima de tensão com os recentes ataques jihadistas no norte do país e grave crise econômica.
As declarações otimistas de Bornito de Sousa foram feitas durante um encontro com a ministra moçambicana dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, que recebe os chefes das diferentes missões de observação eleitoral, da União Europeia, da União Africana, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa e da Commonwealth.
“Registramos positivamente o facto que são as primeiras eleições em que não há armas nas mãos de algum partido e isso é muito bom, cria confiança da parte dos cidadãos de Moçambique. Como todos, esperamos que os resultados reflitam o sentimento do povo moçambicano”, declarou o ex-vice-presidente de Angola.
Para acompanhar estas eleições, há 11.516 observadores nacionais e 412 observadores internacionais, incluindo Missões de Observação Eleitoral da União Europeia, da Comunidade de Países de Língua Portuguesa, da União Africana e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral, entre outras organizações. Há também organizações da sociedade civil, como o Conselho Nacional da Juventude, que tem 500 observadores mobilizados em todo o país nestas eleições.
Tensões iminentes
As eleições ocorrem em um contexto de pessimismo econômico e um clima de medo devido aos ataques jihadistas no norte do país, que frustram a esperança de gerar riqueza a partir das jazidas de gás natural no oceano Índico.
Três candidatos concorrem pela oposição: Ossufo Momade, da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo); Lutero Simango (MDM, centro-direita) e Venâncio Mondlane, que recentemente se separou do Renamo.
O presidente em fim de mandato, Filipe Nyusi, 65, do partido Frelima, que deixará o cargo após cumprir o máximo de dois mandatos, foi um dos primeiros a votar nesta quarta-feira, segundo um jornalista da AFP presente na sessão de voto da capital Maputo.
Esquerda na frente há meio século
O partido de Nyusi, o marxista Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), emerge como o favorito para permanecer no poder, apesar das advertências da oposição de que não tolerará fraudes. As últimas eleições, em 2019, em que Frelimo obteve 73% dos votos, foram marcadas por irregularidades. O partido está no poder há meio século.
"É importante votar para conseguir a mudança. É preciso votar, sair de casa. Se não, não acontece nada", alertou a comerciante Amalia Brandan, 52, enquanto aguardava a sua vez de votar.
O candidato do Frelimo, Daniel Chapo, 47, é um ex-governador provincial sem experiência no governo federal e aparece como favorito. Chapo foi nomeado pelo partido em maio, para surpresa de todos. Isso poderia torná-lo vulnerável à pressão das várias facções da Frelimo, segundo os especialistas.
Ele pode se tornar primeiro presidente moçambicano nascido após a independência. E o primeiro a não ter lutado na guerra civil (1975-1992), que custou um milhão de vidas.
"Nada vai mudar, os resultados serão os mesmos", previu Domingos Do Rosário, professor de Ciências Políticas em Maputo, citando a fragilidade das instituições e as desigualdades, com 74% da população abaixo da linha da pobreza, segundo o Banco Mundial.
Moçambique, assolado por mudanças climáticas, ciclones e secas, continua sendo um dos países mais pobres do mundo.
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