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Taxa de queimadas em SP atinge pico raro; autoridades investigam se houve ação criminosa

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Taxa de queimadas em SP atinge pico raro; autoridades investigam se houve ação criminosa

Relatos de que em São Paulo o comportamento do fogo mudou e se assemelha ao que já acontece em incêndios de países como Chile e Estados Unidos.

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Uma força tarefa, com ajuda do Exército, está atuando no combate às chamas enquanto os agentes civis e federais investigam se pode ter havido ação orquestrada que fez da nação um grande braseiro.

Parece o fim dos tempos. É o apocalipse. A Terra está queimando. São frases ouvidas nas ruas de várias cidades que foram tomadas por uma névoa seca com cheiro de natureza queimada. Um país em chamas com imensos prejuízos às lavouras, salas de emergência médica lotadas e a tentativa de cerco aos responsáveis, com investigação em várias frentes, da Polícia Federal à recompensa de usineiros para quem der pistas dos criminosos.                                                                  

A fumaça que encobre inúmeras cidades pode ter origem local, já que existem muitos focos de queimada Brasil afora, ou então vem de regiões que têm batido recorde de incêndios, como Amazônia e Pantanal. No Cerrado os registros dobraram este mês na comparação com agosto do ano passado.

São Paulo também chama a atenção porque a taxa de queimadas, perto já de três mil e quinhentas, atingiu um pico que não é comum para a época do ano no estado. “Para você ter ideia, só na nossa região de Ribeirão Preto, no último dia 24, nós atendemos a 924 pedidos de combate a incêndio”, relatou à RFI o primeiro-tenente Rafael Mendonça Maia, porta-voz do Corpo de Bombeiros de Ribeiro Preto.

“Isso foge completamente dos padrões de anos anteriores. Esse número de um dia equivale a um mês inteiro em tempos de estiagem grave”. O militar disse que os maiores incêndios por lá foram controlados e que agora há três focos pontuais que exigem mais cuidado, nas regiões de Franca, Ituverava e Igarapava.

Mesmo com o atual momento reunindo uma tríade favorável às chamas – umidade muito baixa, altas temperaturas e ventos – as características do fogo surpreenderam bombeiros e brigadistas. “Houve um comportamento extremo do fogo em nossa região. Algo que acontece em outros países já há algum tempo, como Chile, Canadá e alguns estados americanos”, afirmou Maia, citando a presença de redemoinhos de poeira em meio à difusão das labaredas.                                                                                                                                  

“Nessa combinação, os redemoinhos podem levar fuligem já em chama para locais que comumente o fogo não alcançaria, como, por exemplo, pular de um lado para o outro de uma rodovia dupla. A rodovia seria um bloqueio natural, mas desta vez o fogo avançou”, descreveu o tenente dos bombeiros.

Investigação

Seja a bituca de cigarro ou a lata de alumínio jogados na mata, a limpeza do terreno ou uma ação criminosa deliberada, o entendimento entre especialistas é de que a ação humana desencadeou a maior parte dos casos.

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, disse que por enquanto não há indícios de uma ação orquestrada, mas essa linha de investigação ainda não pode ser descartada, defendeu à RFI o biólogo e professor do departamento de Zoologia da Universidade de Brasília, Ricardo Machado:

“Aparentemente não foram queimadas autorizadas que saíram do controle para atingir toda essa extensão. Em realidade, os indícios sugerem algo orquestrado e feito com um propósito específico. Os indícios incluem, por exemplo, um grande número simultâneo de incêndios em vários locais e nessa época do ano”, avaliou Machado.

Ele diz que é preciso esperar as apurações, mas que as circunstâncias remetem ao que aconteceu em 2019 quando algumas pessoas organizaram um dia específico para usar o fogo como mecanismo de pressão. O especialista lembra também que o desmatamento está no cerne desse cenário favorável ao alastramento do fogo.                                         

“A remoção da vegetação nativa aumenta a temperatura, porque a vegetação absorve a temperatura, criando um microclima mais ameno. O desmatamento também reduz a umidade relativa. Existem estudos mostrando que nos últimos 20 anos a temperatura média do Cerrado subiu entre 2,4 °C e 2,8 °C, e a umidade relativa do ar caiu 15%”, alerta o professor da UnB.

As imagens de animais mortos, alguns agonizando, aliadas à fumaça pesada sobre as cidades têm gerado angústia na população e a sensação de que o tempo para consertar as coisas está passando. “A gente está acabando com o meio ambiente, com a natureza, com a nossa respiração, com a nossa saúde, porque é tudo consequência, né?” indagou, já sabendo a resposta, a auxiliar administrativa Sheila Portela, que revelou dificuldades para dormir.

“Está tudo muito estranho. O tempo já está muito seco. E agora aquele tempo abafado, aquela fumaça cinza. A respiração fica difícil, o nariz machucado, falta ar. E tudo tem incomodado muito na hora de dormir à noite”, relatou a moradora do Distrito Federal.

Outro morador da capital, o estudante Arthur Vilela, de 16 anos, relatou os transtornos dos últimos dias. “Começou no domingo de manhã, com uma neblina muito esquisita. Acordei sentindo aquele cheiro de fumaça. E no dia a dia eu tenho que ir pra escola, tenho que trabalhar. Pra pegar ônibus é todo mundo apertado ali dentro, tudo fechado. E ninguém usa máscara. Na escola a mesma coisa, ambiente fechado para não entrar fuligem. Garganta fica doendo, não adianta beber água, porque é fumaça o dia todo”, queixou-se o jovem.

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Vilson sales

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