Mais de mil municípios brasileiros estavam em alerta nesta quinta-feira (5) devido aos níveis de umidade muito baixos, comparáveis aos de desertos como o Saara. O país enfrenta uma seca histórica e uma série de incêndios. Um nível de umidade inferior a 12% foi registrado em algumas regiões do país, gerando o alerta.
As áreas afetadas estão concentradas principalmente na região central do país, em especial Brasília, e no sudeste, nos estados de São Paulo e Minas Gerais. Essas áreas têm um nível de umidade inferior a 12%, abaixo do limite recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de acordo com dados publicados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet).
Essa situação é “muito perigosa”, salientou o órgão público, porque representa “um grande risco de incêndios florestais”, mas também “para a saúde”, expondo os moradores a “doenças pulmonares e dores de cabeça”.
Em várias dezenas de cidades, o nível de umidade caiu abaixo de 10%, chegando até mesmo a 7% – um nível “tão baixo” quanto o do Saara, disse à AFP Ana Paula Cunha, pesquisadora do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden).
Segundo ela, o Brasil está passando por sua pior seca “em pelo menos 70 anos”, devido à “falta de chuvas acumuladas” desde o final do ano passado.
O país vem sendo devastado há meses por uma onda de incêndios de grandes proporções na Amazônia, a maior floresta tropical do planeta, no Pantanal (centro-oeste) e, mais recentemente, no estado de São Paulo.
Fenômenos “graves e frequentes”
Enormes nuvens de fumaça desses incêndios cobriram grandes cidades, como a capital Brasília, onde não chove há 130 dias. A combinação de altas temperaturas, ventos violentos e baixa umidade cria um “contexto muito favorável para novos incêndios”, alertou a ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, em uma entrevista recente à AFP.
Apenas dois dos 27 territórios do Brasil “não são seriamente afetados pela grave escassez de água”, disse ela.
Em uma audiência no Senado na quarta-feira, Marina afirmou que o Pantanal, a maior área úmida do mundo e um santuário de biodiversidade, pode desaparecer “até o final do século” se a seca persistir, e que esses fenômenos climáticos “estão se tornando cada vez mais graves e frequentes”.
Enormes nuvens de fumaça podiam ser vistas sobre os 9 mil hectares de vegetação do Pantanal. O Brasil sofreu outra grande crise climática em maio, quando o sul do país foi devastado por enchentes que mataram mais de 180 pessoas.
No final de 2025, o Brasil sediará a COP 30, a conferência climática das Nações Unidas, na cidade amazônica de Belém.
Perigo global e ações contra o calor
De acordo com a OMS, mais de 175 mil mortes relacionadas ao calor ocorrem no continente europeu todos os anos. A comunidade científica atribui esses eventos climáticos extremos ao fenômeno climático El Niño associado ao aquecimento global.
Ondas de calor voltaram a atingir a Europa neste verão (inverno no Brasil), uma consequência direta do aquecimento global. As emissões de gases de efeito estufa estão aumentando a intensidade e a duração dessas ondas de calor, principalmente na Europa, “a região que está se aquecendo mais rapidamente no mundo”, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
Diante das temperaturas escaldantes que atingem as cidades francesas a cada verão, escolas estão aumentando os chamados ‘pátios oásis’, vegetalizados, para proteger as crianças do calor. Nos espaços antes cobertos por asfalto e cimento agora são ocupados por plantas e brinquedos de madeira, mais adaptados às altas temperaturas.
Em Toulouse, no sul do país, ou em Paris, esses sistemas foram ampliados desde 2022 a várias escolas, onde um mínimo de 30% da área da superfície passa a ser plantada.
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