A oposição sul-coreana fez um apelo nesta sexta-feira (13) aos deputados do partido governista a se juntarem a ela para votar, no sábado (14) no Parlamento, uma segunda moção de destituição contra o presidente Yoon Suk-yeol, apelando à sua responsabilidade histórica.
O impopular presidente conservador chocou a Coreia do Sul em 3 de dezembro ao instaurar repentinamente a lei marcial, algo inédito no país em mais de quatro décadas, antes de recuar após apenas seis horas, sob pressão do Parlamento e de milhares de manifestantes.
Uma primeira moção de destituição foi rejeitada em 7 de dezembro. A maioria dos deputados do Partido do Poder ao Povo (PPP) de Yoon deixou o plenário antes da votação, impedindo que o quórum fosse alcançado.
No entanto, após uma semana de negociações nos bastidores e enquanto a situação de Yoon se agrava, com uma investigação criminal por "rebelião" e proibição de deixar o país, a oposição parece estar em uma posição mais favorável desta vez, afirmam os analistas.
A votação está marcada para sábado, às 16h, horário local. A moção precisa de 200 votos dos 300 deputados para ser adotada, e a oposição, que possui 192 cadeiras, precisa convencer ao menos oito dos 108 deputados do PPP a mudarem de lado.
Na sexta-feira, Lee Jae-myung, líder do Partido Democrata e principal força de oposição, apelou aos parlamentares do PPP para que se unissem à sua causa, invocando sua responsabilidade histórica.
"O que os legisladores devem proteger não é Yoon nem o partido no poder, mas a vida de todos os que protestam nas ruas geladas", afirmou Lee. "Convidamos vocês a apoiar a votação de destituição amanhã. A história se lembrará da sua escolha e levará isso em consideração."
O líder da oposição democrata nasceu em uma pequena cidade em 1963, em uma família extremamente pobre, em uma Coreia que também era muito pobre, lembra Nicolas Rocca, da RFI. Bem longe de ser a potência industrial e cultural que é hoje, o país, ainda devastado pela guerra, tinha dificuldades para recuperar sua economia. Lee Jae-myung, como muitos, não frequentou a faculdade, mas trabalhou em uma fábrica. Uma infância difícil que ele, em parte, transformou em sua identidade política e que marcou profundamente seus ideais.
Votação apertada à vista
Na tarde de sexta-feira, sete deputados do PPP já haviam declarado publicamente que votariam a favor da destituição, prometendo uma votação apertada.
O deputado da oposição Kim Min-seok estimou em "99%" as chances de a proposta ser aprovada.
Se a moção passar, Yoon será suspenso do cargo até que a Corte Constitucional valide sua destituição. A interinidade será assumida pelo primeiro-ministro Han Duck-soo.
A Corte terá 180 dias para se pronunciar. Se confirmar a destituição, Yoon se tornará o segundo presidente da história da Coreia do Sul a sofrer esse destino, após Park Geun-hye em 2017.
No entanto, também existe o precedente de uma destituição votada pelo Parlamento, mas invalidada pela Corte Constitucional: a de Roh Moo-hyun em 2004.
"Ato de rebelião"
Mesmo que escape da destituição, Yoon Suk-yeol ainda poderá ser responsabilizado legalmente por sua tentativa de golpe, explica à AFP Kim Hyun-jung, pesquisadora do Instituto de Direito da Universidade da Coréia.
"Isso é claramente um ato de rebelião", diz ela. "Mesmo que a moção de destituição não seja adotada, o presidente não poderá escapar de sua responsabilidade penal."
Na sexta-feira, o Ministério Público anunciou a prisão de um comandante das forças de defesa da capital. O tribunal do distrito central de Seul também emitiu mandados de prisão contra o chefe da polícia nacional e o chefe da polícia municipal, alegando "risco de destruição de provas".
À medida que a Coreia do Sul se afunda em uma crise política, Yoon Suk-yeol demonstrou seu desprezo pela situação. Em um discurso televisionado na quinta-feira, ele jurou lutar "até o último minuto".
Desde sua desastrosa tentativa de impor a lei marcial e silenciar o Parlamento, enviando o exército, dezenas de milhares de sul-coreanos saíram às ruas de Seul para exigir sua renúncia e prisão.
De acordo com uma pesquisa da Gallup publicada na sexta-feira, a popularidade do presidente despencou para 11%, e 75% dos entrevistados são favoráveis à sua destituição.
Os manifestantes representam uma ampla gama da sociedade sul-coreana, desde jovens fãs de K-pop agitando bastões luminosos até aposentados que viveram os anos sombrios da ditadura militar na década de 1980.
"A destituição é uma necessidade", afirma à AFP Kim Sung-tae, um operário da indústria automobilística de 52 anos que trabalha em uma fábrica de peças automotivas. "Lutaremos para restaurar a democracia."
"Estou furioso que todos nós tenhamos que pagar o preço por termos eleito esse presidente", concorda Kim Hwan-ii, um professor.
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