As incertezas do mercado em relação à sustentabilidade fiscal do Brasil continuam pressionando a moeda nacional. Nesta terça-feira, 24, o dólar norte-americano voltou a ser cotado a R$ 6,20, registrando uma desvalorização de quase 2% ao longo do dia.
No acumulado de 2024, a moeda brasileira já perdeu cerca de 25% de seu valor em relação ao dólar.
Análise da consultoria XP Research relata que a combinação de fatores globais e riscos internos está por trás desse cenário desfavorável. No âmbito internacional, a postura mais conservadora do Federal Reserve (Fed) e a queda nos preços das commodities contribuem para o fortalecimento do dólar.
Com a aproximação do final do ano, cresce a pressão para que o governo apresente medidas concretas que restabeleçam a confiança dos mercados.
A percepção de risco local, no entanto, é o que tem chamado mais atenção dos analistas, especialmente em relação à capacidade do governo brasileiro de equilibrar as contas públicas. Isto tem afastado investidores internacionais e ajudado a pressionar o dólar.
“Quando a gente olha a trajetória da dívida pública em relação ao PIB, ela vem aumentando, mesmo com recordes de arrecadação o déficit aumentou, a dívida está aumentando”, observa o economista Luciano Nakabashi, professor doutor do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto (FEA-RP) da Universidade de São Paulo (USP), em artigo para o Jornal da USP.
“Isso mostra que a gente está gastando muito de uma forma meio que descontrolada, isso tem causado muita incerteza em relação a essa capacidade futura de pagamento da economia brasileira.”
Nakabashi também projeta um crescimento econômico menor para 2025:
“A gente espera um 2025 que tenha um crescimento menor em relação a 2024 – em torno de 1,5%, 2% -, mas depende também muito para onde vai a política fiscal.”
Déficit em conta corrente
Para conter as pressões sobre o câmbio, o Banco Central anunciou que venderá US$ 3 bilhões de suas reservas internacionais na próxima quinta-feira 26. A medida visa a aumentar a liquidez nos mercados, mas especialistas questionam sua eficácia diante de um cenário estruturalmente adverso.
Outro dado preocupante, ressalta a XP Research, está no balanço de pagamentos. O déficit em conta corrente acumulado em 12 meses alcançou US$ 52,4 bilhões em novembro, o equivalente a menos 2,4% do Produto Interno Bruto (PIB).
Essa queda aumentou em relação aos US$ 49,4 bilhões registrados em outubro (menos 2,2% do PIB).Com isso, o déficit de novembro de 2023, que foi de US$ 25,8 bilhões (menos 1,2% do PIB), praticamente dobrou.
De acordo com a consultoria, esses indicadores reforçam a preocupação dos investidores sobre o potencial de deterioração fiscal e seus efeitos na economia.
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