A capital do Mali, Bamako, amanheceu sob uma aparente calma nesta-quarta-feira (18), depois dos ataques jihadistas ocorridos na terça-feira (17) e que foram fortemente condenados pela Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Ainda não se sabe o número exato de mortos nesta operação reivindicada por jihadistas afiliados à Al-Qaeda, uma ação sem precedentes nesta região havia anos, ainda que o país seja alvo de ataques quase diários.
De acordo com relatos de testemunhas recebidas pela RFI, o ataque deixou um grande número de pessoas mortas e dezenas de feridos foram para os hospitais da capital. Foi um ataque sangrento e com grande um grande simbolismo?
Algumas regiões do Mali são alvos frequentes de operações de milicianos islâmicos, mas nenhum ataque havia ocorrido na capital desde o ataque de março de 2016 contra um hotel que abrigava a antiga missão europeia de treinamento do Exército malinês.
As autoridades ainda fazem um levantamento da extensão dos danos causados por estes ataques cuidadosamente preparados, que levaram os jihadistas a assumir temporariamente o controle de parte do aeroporto internacional Modibo-Keïta, na terça-feira.
O Ministério dos Transportes anunciou a retomada dos voos.
O Estado-Maior reconheceu, na noite de terça-feira, "a perda de vidas", especialmente no ataque à escola de formação de policiais, um dos alvos, juntamente com o aeroporto militar adjacente ao aeroporto civil.
O comércio começou a reabrir em torno dos locais atingidos. A estrada principal que passa pelo acampamento do posto policial permanece fechada ao trânsito e a polícia armada protege a via. Nenhum dano é visível do lado de fora do acampamento.
"A situação está sob controle", assegurou à televisão estatal o chefe do Estado-Maior do Exército, o general Oumar Diarra. O ataque foi repelido e os agressores “neutralizados. A busca continua", acrescentou.
A televisão exibiu imagens de uma dezena de prisioneiros com as mãos amarradas e os olhos vendados.
Grupo ligado à Al-Qaeda reivindica ataques
O Grupo de Apoio ao Islã e aos Muçulmanos (GSIM), que assumiu a responsabilidade pela operação, publicou vídeos dos seus combatentes entrando no pavilhão presidencial do aeroporto e ateando fogo a um avião da frota oficial. As autoridades não negaram nem confirmaram que o avião do próprio chefe da junta militar do país, coronel Assimi Goïta, tenha sido atingido.
O GSIM (JNIM, na sigla em árabe) informou através de seus canais de comunicação que algumas dezenas de seus homens causaram centenas de mortes e feridos nas fileiras opostas, incluindo membros do grupo russo Wagner, aliado do regime militar de Bamako. De acordo com o grupo jihadista, os seus combatentes destruíram completamente seis aeronaves militares, incluindo um drone, danificaram outras quatro e vários veículos.
As afirmações de ambos os lados continuam a ser difíceis de verificar, num contexto de tensão crescente e de restrição ao acesso à informação pelo regime militar. Vídeos que circulam nas redes sociais mostram corpos na área, embora o governo militar no poder no país africano não tenha fornecido informações sobre baixas em suas fileiras.
Guerra ao terrorismo
Os ataques de terça-feira ocorreram um dia após o primeiro aniversário da Confederação dos Estados do Sahel. No domingo (15), o chefe da junta maliana havia garantido que esta aliança tinha “enfraquecido consideravelmente os grupos terroristas armados”.
Com os ataques de terça-feira, o GSIM pretende demonstrar, pelo contrário, que ataca onde quer, dizem os analistas. Os danos infligidos põem em xeque as garantias do regime, que afirma ter invertido a tendência de violência graças a múltiplos atos de ruptura e à preferência dada a novos parceiros internacionais, incluindo a Rússia.
O GSIM também tenta distanciar-se das acusações de abusos contra civis a que está sujeito e, inversamente, mostrar-se protetor da população. Assim, o grupo afirma ter realizado os ataques de terça-feira “em retaliação pelas centenas de massacres cometidos pela junta governante e pelos seus aliados russos contra o povo muçulmano”.
A CEDEAO, com a qual o Mali rompeu em janeiro, ao mesmo tempo que os seus vizinhos do Burkina Faso e Níger, expressou em um comunicado de imprensa a sua “firme condenação” dos ataques.
Os três países do Sahel, confrontados com problemas comuns e liderados pelos militares, após sucessivos golpes de estado desde 2020, acusam a CEDEAO de não os ter apoiado face ao jihadismo e de serem subservientes à antiga potência colonial francesa.
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