O primeiro-ministro Olaf Scholz quer enviar uma mensagem de firmeza sobre a imigração às vésperas de eleições regionais decisivas.
A medida foi tomada uma semana depois do ataque cometido em Solingen por um cidadão sírio e reivindicado pela organização jihadista Estado Islâmico.
“Era necessário que a confiança no nosso Estado de direito continuasse”, disse a ministra do Interior alemã, Nancy Faeser, à imprensa.
De acordo com a revista Der Spiegel, citando fontes de segurança, um avião fretado da Qatar Airways com destino a Cabul partiu antes das 7h da manhã (3h em Brasília) de sexta-feira do aeroporto alemão de Leipzig, no leste do país.
A operação decorreu em total sigilo, após dois meses de negociações durante os quais o Catar desempenhou o papel de intermediário entre o governo talibã e Berlim, acrescentou Der Spiegel.
Os afegãos expulsos “foram todos condenados pelos tribunais” alemãs, declarou o porta-voz do governo Steffen Hebestreit.
Segundo autoridades regionais, vários deles eram criminosos sexuais, tendo um deles participado de um estupro coletivo de uma menor de 14 anos na região de Ulm, no sudoeste da Alemanha.
Outros deportados foram condenados por tentativa de homicídio, agressão e agressão e roubo com armas.
Segundo a ministra do Interior, “não houve contato direto” com o governo talibã (que Berlim não reconhece). “Mas conseguimos implementar (as expulsões) com os nossos parceiros”, disse ela, sem especificar se foi o Catar.
“Enviamos um sinal também para potenciais criminosos ou pessoas que planejam cometer crimes aqui neste país”, sublinhou Hebestreit.
Após a volta dos talibãs ao poder em Cabul, em 2021, a Alemanha interrompeu completamente as expulsões para o Afeganistão e fechou sua embaixada na capital afegã.
Ataque e eleições
Estas expulsões ocorrem num contexto particularmente tenso, após o ataque com faca ocorrido há uma semana em Solingen, no oeste do país, onde três pessoas morreram.
O suposto autor é um sírio de 26 anos, suspeito de ligações com a organização jihadista Estado Islâmico.
A Alemanha realiza eleições regionais no domingo (1) no leste do país, na Turíngia e na Saxônia, onde o partido de extrema direita, Alternativa para a Alemanha (AfD), poderia vencer. Por isso, a coligação de centro-esquerda do Chanceler Social-Democrata Olaf Scholz estava sendo pressionado para agir rapidamente.
Faeser anunciou na quinta-feira (29) um conjunto de medidas destinadas a fortalecer o controle da imigração e restringir o uso de armas brancas.
“É claro que alguém que comete um crime grave não pode beneficiar da mesma proteção que alguém que se comporta adequadamente”, disse o chanceler Scholz, numa entrevista publicada sexta-feira na Der Spiegel.
“Temos o direito de escolher quem pode vir até nós e quem não pode”, acrescentou.
A coligação do chanceler social-democrata, que governa com os Verdes e os Liberais, também disse antes do verão no hemisfério norte que analisava a possibilidade de retomar as expulsões de delinquentes para a Síria, suspensas desde 2012 devido à guerra civil neste país.
Risco de tortura
Mas estes projetos suscitam fortes reações por parte de diversas organizações de defesa dos direitos humanos.
“Ninguém deveria ser deportado para um país onde corre o risco de ser torturado”, disse Julia Duchrow, chefe da Anistia Internacional na Alemanha, na sexta-feira. Ela acredita que Berlim “torna-se cúmplice dos talibãs”.
Omid Nouripour, um dos líderes dos Verdes, insistiu que “as pessoas que cumprem a lei, em particular famílias e crianças que fugiram dos islâmicos radicais”, continuarão a beneficiar de proteção na Alemanha.
O autor do ataque em Solingen chegou à Alemanha em dezembro de 2022. Ele era alvo de uma ordem de expulsão para a Bulgária, onde sua entrada foi registada e onde seu pedido de asilo deveria ser processado. Mas ele desapareceu quando as autoridades alemãs quiseram expulsá-lo.
Em outro ataque com faca em Mannheim, oeste do país, em maio, um afegão de 25 anos matou um policial e feriu cinco pessoas.
Comentários: